quarta-feira, 30 de julho de 2014

Higiene Mental Familiar


Num momento em que a prioridade é segurar o mais possível a capacidade económica da estrutura familiar há frequentemente uma diminuição acentuada da disponibilidade dos pais para os seus filhos, por falta de tempo e/ou falta de paciência. Mas apesar das dificuldades serem reais, desde o início dos tempos que com menores ou maiores dificuldades sempre houve famílias mestras em pôr o afecto 'na mesa' em qualquer circunstância, pelo que a 'crise' nem sempre é desculpa. Assim, não custa lembrar que ser pai e ser mãe é profissão a tempo inteiro e que cabe aos pais unir a família (o investimento é, primeiro, de pais para filhos), desenvolvendo os esforços necessários para que os filhos usufruam a boa companhia dos pais e os pais da companhia dos filhos. 
Porque “perdemos” tanto tempo a falar e a pensar nas famílias e nas crianças? Não é só porque as crianças de hoje são as mais protegidas de todos os tempos. É também porque hoje sabemos que pensar nas crianças é pensar na evolução da humanidade e no que está para vir. Toda a saúde mental passa em primeiro lugar pela saúde mental infantil. E no que respeita às nossas crianças, esta higiene mental pratica-se em casa e na escola. Sempre tendo em conta que, sem as condições emocionais minimamente satisfeitas (o que varia de caso para caso), não há possibilidade de uma boa integração e aprendizagem na escola. Os preconceitos ditam, ainda, que muitos educadores (não todos!) pensem que as dificuldades da criança na escola assentam em uma de duas hipóteses: incapacidade intelectual ou preguiça do aluno. E num mundo cada vez mais competitivo é tentador cair na ilusão de uma educação para o sucesso em detrimento de uma educação para os afectos.
Que se perceba que só uma árvore bem nutrida e enraizada em solo fértil dá os melhores frutos. Uma alfabetização emocional antecede obrigatoriamente o percurso académico. Para que as crianças integrem a leitura é necessário que tenham tido a possibilidade de aprender a relacionar-se com o mundo, ligando percepções, pensamentos e afectos, antes de aprender a ligar as letras. Ler à nossa volta. Para aprenderem a fazer contas é preciso que possam “subtrair” e “dividir” sem medo de ficarem sem nada ao sentirem que já têm pouco. Afecto, atenção, disponibilidade.

Quando os momentos em família se resumem a uma correria para o banho, trabalhos e jantar, um dia após o outro, sobra pouco tempo para os laços familiares. O lazer em família deve ser encarado com o mesmo respeito que qualquer outra tarefa do quotidiano. Porque um passeio, um jogo de futebol, um desenho, andar de bicicleta ou um mero ataque de cócegas de vez em quando dão força e entusiasmo às crianças para crescer afectivamente mais estruturadas e esse é o único caminho para que mais tarde possam enfrentar os obstáculos com a barriga cheia de amor, coragem e confiança. As crianças precisam sentir que são importantes na vida dos seus pais. O alimento para a alma é tão importante que todas as crianças prefeririam passar mais tempo com os seus pais em detrimento de outros bens materiais. Uma família unida por laços de afecto e pelo prazer em estar na companhia uns dos outros será a força motriz para enfrentar tudo o que está para vir. 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Medo e Desconforto de Pensar

Um artigo publicado pela revista Science (Just think: The challenges of the disengaged mind) revelou, entre outras coisas, que alguns inquiridos preferem auto-administrar choques eléctricos do que ficarem a sós com os seus pensamentos.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Let the Children Play

Finn Beales

Deixem as crianças brincar. "Isto é um assunto muito sério". Em algum momento esquecemos o significado do conceito 'férias'. Foi no momento em que nos tornámos escravos do sucesso académico das nossas crianças. Em busca da criança mais espectacular (como comprovativo dos educadores espectaculares que somos) servimos-lhes uma cópia ao pequeno-almoço, contas de dividir ao almoço e, com sorte, uma ficha de estudo do meio ao jantar. Deixem as crianças brincar. Que esqueçam a tabuada mas aproveitem para contar o troco do gelado, que esqueçam o corpo humano mas sintam os músculos cansados, que esqueçam as dinastias mas possam visitar os castelos. Viver, em vez de decorar. Que do Verão recordem os mergulhos, a bicicleta, o sal na pele, os golos, o cabelo molhado, as raquetes de ténis e a boca suja de açúcar. Que não se recordem de mais que isso. Como criamos espaço para o novo se não nos libertamos do que é velho?

Respire-se fundo.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sobre o Handling à moda de Osho


Se não exploraste o teu corpo, não saberás explorar a alma. A metodologia da exploração é a mesma, mas começa com o corpo porque o corpo é a parte visível da alma.


Osho

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Do Outro Lado do Espelho


O que nos mostra afinal um espelho? O espelho reflecte uma imagem, mas o que nós percepcionamos dessa imagem é sempre uma interpretação pessoal e única. Ou seja, a percepção é subjectiva. O “espelho” reflecte aquilo que queremos/conseguimos ver e, por isso, é “mentiroso”. Às vezes mostra algo em excesso, outras, mostra por defeito. Por vezes, entorta o que está direito mas também endireita o que está torto. Assim, quando duas pessoas se encontram em frente a um mesmo espelho, vêem coisas diferentes e avaliam o que vêem de maneira diferente. Como também cada artista aborda de maneira diferente a mesma realidade ou tema na sua obra. Não há duas percepções iguais.
Esta ideia de subjectividade aplica-se não apenas à percepção visual mas também a muitas outras questões que percepcionamos na nossa realidade do dia-a-dia. É válida para a ideia-imagem que fazemos de nós próprios mas também para a ideia-imagem que fazemos dos outros e da vida em geral. Quando fazemos um julgamento sobre nós ou sobre os outros, nunca podemos considerar-nos juízes imparciais. E por isso é perigoso ver as coisas a preto ou branco. Pouca coisa será verdade absoluta no mundo e particularmente nas relações entre as pessoas onde cada um pensa e interpreta as situações consoante as suas “lentes”. Em última análise, o que é isso da realidade senão a nossa interpretação? Quantas vezes nos apercebemos de que a nossa visão das coisas difere daquilo que os outros pensam? Até as noções de certo ou errado são referenciais que variam muito de pessoa para pessoa. Na verdade, dificilmente podemos pretender ver a realidade nua e crua, livre de leituras subjectivas, de opiniões intoxicadas ou de lentes embaciadas.

Porém, o que faz de nós quem somos reside também nessa visão única que temos do mundo e das coisas. É dessa riqueza que nasce ao vermos o mundo de forma diferente que se faz a massa humana. É por pensarmos todos de forma diferente que nascem as mais belas ideias. Podemos não ser capazes de apreender a realidade tal e qual como ela é mas ter esta consciência torna-nos mais livres para poder um dia ver as coisas de outra perspectiva, para espreitar por detrás do espelho e procurar se lá se esconde uma outra verdade. Torna-nos também capazes da grande faculdade de ouvir os outros, de aceitar outras realidades e outros sentires. De valorizar aquilo que, apesar de nos ser estranho, até pode fazer sentido. Do outro lado do espelho, para lá daquilo que vemos, está então aquilo que nem sempre conseguimos ver: um mundo inteiro de outras possibilidades à nossa espera.

Metáforas Deliciosas

lembra daqueles termómetros que usávamos na boca
quando eramos pequenininhos?
lembra da queda deles no chão?
então, acho que o amor quando aparece
é em tudo semelhante à forma física do mercúrio no mundo
quando o vidro do termómetro se quebra
o elemento químico se espalha
e então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas
mercúrio se multiplicando
acho que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor


(Matilde Campilho, fevereiro)