quinta-feira, 29 de maio de 2014

Vai-te embora, ó medo!


Não são apenas as crianças que têm medos. O medo é uma emoção humana transversal a todas as idades e, uma vez ultrapassados os medos do escuro, da trovoada e das figuras monstruosas do imaginário infantil, podem surgir de outra forma, mais relacionados com a realidade e com o dia-a-dia nas nossas vidas.
O medo é por demais evidente quando o nosso organismo reage. Dependendo da intensidade desse medo, podemos simplesmente sentir um aperto do estômago ou uma necessidade de respirar fundo, mas também é possível que sintamos disparos do coração e alterações na respiração culminando, no limite, naquilo que chamamos um ataque de pânico. O suor pode inundar a pele e podemos sentir dor em diversas partes do corpo. O medo é visceral e será talvez a mais antiga emoção humana, por vezes útil, sinalizando o que é perigoso fazer e evitando desgraças maiores. Foi fundamental para a preservação da espécie e na sua ausência provavelmente estaríamos extintos há milhares de anos.
Por outro lado, o excesso de medo pode bloquear-nos a possibilidade de viver coisas boas. Por medo de sofrer consequências dolorosas (físicas ou psicológicas) podemos tornar-nos incapazes de muita coisa. Muitas pessoas deixam de ser elas próprias por medo de não serem gostados tal e qual como são. Outros não se ligam a ninguém por medo de sofrer mais tarde uma decepção ou abandono. Por outro lado, estar sempre acompanhado também pode ser uma reacção ao medo, medo de estar só e de tomar conta de si mesmo. Há quem se recuse a aventurar-se em projectos pessoais por medo que não corra bem. Sonhos são engavetados e esquecidos.

Os medos nem sempre são conscientes, ou seja, por vezes não nos sentimos ansiosos nem a nossa barriga se aperta, mas usamos racionalizações para justificar porque é que não saímos da nossa zona de conforto. Dizemos: “não me dá jeito”, “não ligo muito a essas coisas”, “não me interessa”, “estou bem assim”, “não quero assim tanto”. Por trás, inconscientemente, espreita a verdade escondida, um medo que não nos deixa avançar e arriscar. O medo do erro, do fracasso, da punição, da dor, do abandono, da solidão ou da morte, são angústias humanas que condicionam muitas vezes o caminho que escolhemos. Ou que não escolhemos. O medo leva-nos a fugir. Ficar quieto também é fugir. E fugir pode ser bom, se isso nos proteger de um perigo, mas será mau se nos afastar de experiências e vivências importantes. Há muitas perguntas para as quais não temos resposta. Irá correr bem? Devo ir por aqui ou por ali? Estou a fazer as coisas da forma certa? Pensar e questionar não é o problema, pelo contrário. O problema é quando o medo das respostas não nos deixa abraçar as interrogações com coragem e, assim sendo, por medo de viver, não vivemos de todo. 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Divulgação

Caríssimos, boa tarde! 
É com muita alegria que informo que a partir desta semana começarei também a dar consultas (Psicoterapia/ Psicologia Clínica) no coração de Lisboa, que é um coração muito grande e me acolheu com muito carinho. O consultório está situado na Rua Joaquim António de Aguiar (entre Amoreiras e Marquês de Pombal). 
Para mais informações, enviar email (s_pracana@hotmail.com) ou comunicar para número na secção dos contactos (acima).
S.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Uma Psicanálise do Encontro Educativo

“O diálogo que me foi construindo como profissional, assente numa dupla filiação em Psicanálise e Educação, devo-o certamente a João dos Santos e aos momentos em que nas salas da Universidade, ainda na Pinheiro Chagas, nos encontrávamos com ele, uns com os outros e com a Psicologia. Nesses encontros João dos Santos fazia entrar sem cerimónia o mundo grande, a complexidade e o enigma, a cultura e a educação, a escola e a infância, a pedagogia e a terapia, a psicanálise e a importância de nos questionarmos a nós próprios.
É uma curiosa e feliz coincidência que o ano de nascimento de João dos Santos (1913) seja o ano em que Sigmund Freud publicava o seu trabalho “O interesse da Psicanálise”, apontando nesse magnífico texto o denominador comum entre a Psicanálise e a Educação: o facto de ambas reconhecerem a importância decisiva da infância na evolução do homem. Escreve então : ” A Psicanálise viu-se obrigada a fazer derivar a vida psíquica do adulto da vida psíquica da criança e a tomar a sério o adágio popular de que a criança é o pai do homem. Estudou a continuidade da psique infantil no adulto, identificou as transformações e as mudanças que se cumprem nesse caminho e encontrou a confirmação do que já havíamos frequentemente pressentido: a extraordinária importância, para todo o curso ulterior da vida do homem, das suas experiências infantis e em particular das que ocorrem nos primeiros anos da infância (…) A contribuição principal da Psicanálise para a educação é o reconhecimento da importância da Infância”.
É também neste texto de 1913 que podemos ler: «O maior interesse da Psicanálise para a Ciência da Educação funda-se sobre um enunciado que se tornou evidente, o de que não pode ser educador senão aquele que pode sentir do interior a vida psíquica infantil e quando nós, adultos, não compreendemos as crianças é porque deixámos de compreender a nossa própria infância».
Como que respondendo a este desafio, João dos Santos, psicanalista e pedagogo, pioneiro do diálogo entre a Psicanálise e a Educação em Portugal, torna o enunciado freudiano o fundamento da sua obra convidando cada adulto e nele cada educador a encontrar-se com  a criança que guarda dentro de si para que, sentindo do interior a vida psíquica infantil,  possa  encontrar-se com a criança e educar… Educar, é oferecer-se como modelo (JS).
Educação designa simultaneamente um processo e o resultado desse processo. O processo consiste num trabalho de formação pelo qual a criança é chamada a desenvolver as faculdades que a definem como ser humano e o produto deste trabalho de formação, a bem dizer interminável, é a realização no sujeito das características constituivas dessa humanidade. Sabemos que o processo educativo implica um campo de influências múltiplas e recíprocas entre adultos – pais, professores, educadores – crianças e adolescentes e que o caminho da educação é pontuado por encontros que vão permitindo a construção do ser e o seu desenvolvimento. No coração do desenvolvimento está a relação. A complexidade desta relação é tal que é difícil de dizer o que nela age e o que ela transforma, mas que é da ordem do encontro, parece indubitável. E se é bem verdade que todo o encontro humano é um enigma, não temos hoje qualquer dúvida de que os agentes de transformação são as pessoas e não as estruturas. No coração do desenvolvimento está a relação e  é também a relação que está no coração do encontro educativo: “Só se educa quando uma relação humana se estabelece, se desenvolve e se confirma na intimidade de cada uma da crianças e adultos em presença” (JS).
Marcel Postic no seu livro A relação pedagógica esclarece: “A relação pedagógica torna-se educativa quando em vez de se reduzir à transmissão do saber, compromete as pessoas em presença num encontro onde cada um descobre o outro e se vê a si mesmo e onde começa uma aventura humana pela qual o adulto vai nascer na criança. João dos Santos não se cansa de o lembrar: “Educar é basicamente estabelecer uma relação, a relação implica que o objeto de amor seja investido. Aquele que faz o primeiro movimento deve ter disponibilidade para receber as descargas afetivas no esboço de comunicação que se estabelece. A comunicação define-se como energia que passa num certo sentido e no sentido inverso (…) “A pedagogia e a didática funcionam melhor quando são instrumentos de comunicação reciproca”(…). No plano pré-educativo da relação básica, como no plano da educação, a relação deve ser entendida como uma disponibilidade afetiva para dar e receber amor terno e amor agressivo” (JS).
Parece-me que a formação de educadores e professores dever dar uma prioridade absoluta à relação pedagógica, pois que o trabalho educativo é essencialmente um trabalho de ligação. É um trabalho que se inicia sempre por uma ligação humana, a partir da qual se torna possível levar o aluno a estabelecer ligações com os objectos mais distantes que constituem a cultura e os saberes. Toda a relação é sustentada e animada por processos de identificação recíproca ou mútua e o encontro educativo não foge a esta regra: ao desejo de apropriação por parte do educando tem que corresponder um desejo de dádiva do educador. O educador/professor oferece-se como objeto desejável de aprendizagem e o educando como objeto desejável de educar. “O encontro não é só obra do acaso, é também obra da disponibilidade recíproca daqueles que se encontram. O encontro depende da convicção do que de perene existe nos nossos semelhantes” (JS).
Na relação com os outros, mesmo que mediada pela transmissão de um conhecimento, como é o caso da escola, não estamos nunca desimplicados, estamos com a nossa história, feita a nossa pessoa. Cada um de nós sabe-o, sentiu-o, experimentou-o. Basta que evoquemos o nosso passado escolar para que surja toda a gama de sentimentos que tecem a relação com a aprendizagem: angústias e alegrias, entusiasmos e deceções, proximidade e afastamento, adesões e ruturas. A escola está em cada momento e em cada sala cheia de fenómenos afetivos, de narrativas de vida silenciosas, que uns e outros contam, escutam e às quais respondem. Cada momento de ensino/aprendizagem é a história de um encontro, mais ou menos conseguido, entre um professor, um aluno e um saber. Cada actor em cena quando convoca o saber, convoca igualmente em cada um dos seus actos toda a sua pessoa, uma história de vida e um projecto de vida, melhor ou pior sucedidos, uma memória implícita, activa, representações, sentimentos, valores, uma ideia de humano, de criança, de adulto, uma ideia de crescimento, uma ideia de aprendizagem, expectativas, dúvidas, paixões, violências, desilusões, sucessos e frustrações, desejos de reconhecimento, pulsões construtivas mas igualmente pulsões destrutivas de domínio e de controlo. Uma tal implicação é em si mesma constitutiva do encontro e, sendo inevitável, longe de ser inoportuna é mesmo útil e desejável. Não encontramos os outros e os outros não se encontrarão connosco senão através da nossa presença e autenticidade.
“Não existe, nem creio que alguma vez exista, uma forma exata de educar, pois que a sociedade está constantemente a evoluir e a sua própria evolução implica a negação pela juventude da validade dos princípios educativos imposta pelos antecessores. Não existem educadores perfeitos, e quando há pretensos educadores perfeitos, os seus produtos são casos patológicos” pensava João dos Santos, e tudo quanto aconselhava, no estado atual dos nossos conhecimentos, precisava, era que “cada um eduque com verdade e espontaneamente e que os educadores sejam personagens reais e não autómatos eruditos e sofisticados (…) Se a educação pode ser encarada como um fenómeno cultural que orienta o diálogo com o educando e os outros educadores, a ação educativa deve sempre basear-se na relação espontânea, afetiva e instintiva pois que quem educa são as personagens verdadeiras e não as figuras ideais. Não se educa com teorias mas com princípios e preconceitos adquiridos na experiência e no convívio familiar e comunitário, não sendo a educação uma matéria que se ensine, mas fundamentalmente uma atitude que reflete o confronto entre as vivências do educando que fomos com o educador que pretendemos ser” (JS).
Que educadores pretendemos ser?
Escolhermos ocupar-nos de crianças ou jovens é reencontrar a nossa própria infância e juventude. Mesmo que não guardemos recordações conscientes, não  deixamos de ser menos habitados por essas idades pois foi lá que nascemos para para a relação, para a percepção de nós e dos outros. Cada educador revive e transpõe afetos e sentimentos com origem em lugares do seu passado (mas nem por isso menos presentes e atuantes no seu mundo interno) para os lugares e relações do presente e também para a sua relação com o conhecimento e com cada um dos seus educandos, dos seus alunos. Este é um dos maiores contributos da Psicanálise para as Ciências da Educação e aquele que João dos Santos, como psicanalista do encontro educativo, permanentemente nos lembra. Em cada uma das suas histórias – contador de histórias como gostava de se apelidar – fala-nos deste Outro em nós, desta nossa parte de enigma, irracional e secreta “Toda a pessoa guarda um segredo e o segredo do homem é a própria Infância” eda sua influência nas relações que estabelecemos. Este Outro, dimensão Inconsciente na terminologia psicanalítica, é o que nos move, o que permanentemente nos escapa e o que teima em reaparecer em cada um dos nossos encontros educativos. É importante conhecê-lo, dizendo de outro modo, é importante que nos conheçamos.
“A motivação para os problemas da criança, escreve João dos Santos, reside na própria infância de cada um, a experiência infantil acompanha-nos pela vida fora, e assim, podemos admitir que, tal como a Obra tem uma estrutura de base e toda a construção um alicerce, também a personalidade tem uma base ou alicerce, que é a infância. Tal como o edifício depois de acabado, retocado e experimentado não pode dispensar os alicerces, também a pessoa não pode mentalmente anular a experiência e as vivências da sua criação. As pessoas adultas equilibradas guardam saudavelmente certos factos infantis ou juvenis. O adulto vê a infância e juventude do outro através do imago que ele se fez da sua própria infância e juventude, para se rever nas suas aspirações bem-sucedidas ou para reagir contra o fracasso das suas rebeldias. O educador pensa em termos daquilo que deve ser mas, com frequência, aquilo que o educador acha que deve ser corresponde à maneira como ele próprio se organizou, quando criança ou jovem, de acordo ou em desacordo com aquilo que lhe impuseram” (JS).
Como Ciência do Humano a Psicanálise procura dar voz a este Outro, escutando a dinâmica do mundo interior, as experiências e personagens que o habitaram e habitam, trazer compreensibilidade aos comportamentos e atitudes que não se reduzem nunca apenas ao que dão a ver. Ciência das profundidades, não das superfícies, a Psicanálise do Encontro Educativo propõe-nos uma Investigação/ação que toma como objeto a dinâmica dos processos psíquicos que influenciam a intersubjetividade e as vias através das quais um ser humano se constrói, se desconstrói e se pode ainda reconstruir, reconhecendo em cada ser humano um sujeito que ainda não é… paradigma tão caro a João dos Santos: a educabilidade. Convida-nos a um diálogo entre observação e auto-observação, à reflexividade e a questionarmos as nossas atitudes e atos pedagógicos, de uma forma aberta e atenta ao educando. Um convite a que trabalhando com a criança, o educador trabalhe igualmente sobre si próprio, para que não fique aprisionado nas malhas da repetição “(…) Os mestres são modelos, modelos de disponibilidade. Ser ou estar disponível é ter uma vida interior que se organiza em termos de deixar espaço para a sensibilidade e para a sabedoria dos outros” (JS).
A Psicanálise do encontro educativo ensina-nos sobretudo que a afetividade é indissociável do desenvolvimento da inteligência e que a palavra que o adulto dirige à criança traz com ela afetos que ressoam longamente pela vida, pois que as palavras antes de significarem alguma coisa significam alguma coisa para alguém.
Se como diz Edgar Morin, em entrevista ao Jornal Le Monde, a missão essencial da educação e do ensino é a de nos preparar para viver, então os conhecimentos vitais, do Ensino Básico à Universidade, não serão essencialmente os conhecimentos “sobre” o Ser Humano mas os de “como” ser Humano. Esse é também o ensinamento e o desafio que João dos Santos parece lançar a este novo século e ao educador em cada um de nós."
Santarém, 8 de Novembro 2013
Maria Teresa Casanova Sá

*   Comunicação na Conferência “XXI Jornadas da Prática Profissional da Escola Superior de Educação de Santarém – O Segredo do Homem é a própria Infância: pensar em Educação com João dos Santos”, proferida pela Dra Maria Teresa Casanova Sá, 8 de Novembro de 2013



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Pedrinha (Da Solidão)



A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.


José Saramago

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A Adição


Quando pensamos em dependências associamos frequentemente à toxicodependência, talvez a mais debatida nas últimas décadas. Mas aos poucos fomos percebendo outras manifestações de dependência, expressas no álcool, jogo, alimentos ou sexo. Hoje estendemos este conceito às compras, aos jogos, à internet e qualquer outro comportamento aparentemente fora do controlo do indivíduo e/ou que limite e prejudique a sua vida quotidiana.
Chamamos-lhes dependências, adições (ou comportamentos aditivos), e entendemos por isto quaisquer acções que o sujeito realize de forma compulsiva, com base num impulso incontrolável que faz com que não sossegue enquanto não o concretiza (independentemente de “em quê” irá aplicar esse impulso). Esta problemática acarreta sempre uma diminuição ou perda de liberdade, pois é-se escravo da compulsão. Sendo dominado por estes impulsos, o desejo de consumir (seja lá o que for) torna-se frequentemente mais importante do que a relação com os outros e, inclusivamente, do que os próprios interesses e necessidades. É possível que esta compulsão conduza à ruína da vida familiar, social, profissional ou financeira, no entanto, também há comportamentos aditivos mais mascarados e sem uma forma de prejuízo tão visível a olho nu.
Os comportamentos aditivos são comportamentos que visam a procura de prazer imediato. Por norma procura-se com eles preencher um vazio interno e dissipar algum tipo de mal-estar psicológico, mais ou menos leve e muitas vezes inconsciente. Contudo, sendo uma solução enganosa, muito rapidamente o prazer se dissipa e torna a sentir-se vazio ou mal-estar, repetindo-se o comportamento em busca de novo alívio. No caso da toxicodependência e do alcoolismo é amplamente conhecido o efeito dos agentes químicos causadores de dependência (física) mas a compreensão dos mecanismos aditivos (dependência psicológica) exige sobretudo a compreensão das “falhas afectivas” subjacentes.
A grande maioria dos autores que estudam as perturbações do comportamento aditivo (e das dependências no geral) falam de uma espécie de falha no desenvolvimento afectivo mais precoce, normalmente relacionada com dificuldades no processo primário de separação entre o bebé e a sua mãe (e consequente dificuldade de individuação do sujeito - que, no limite, todos temos em maior ou menor grau).  Falam ainda de uma falha na função paterna (o pai “separa” a mãe do seu bebé introduzindo-se como um terceiro na relação de dependência primordial). Não se concretizando adequadamente o processo de separação e autonomização (talvez o processo mais delicado na vida do ser humano), dá-se, inconscientemente, uma busca externa, compulsiva, do objecto perdido, sob a forma de adição.

É, assim, importante perceber de que é o indivíduo está à procura e, simultaneamente, do que é que está a fugir, pois a adição serve também para obscurecer e manter afastadas da consciência as experiências dolorosas. Somos peritos em manobras de ilusionismo para negar a nossa própria dor, contudo, estando lá, cedo ou tarde se manifesta.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Sigmund Freud, O Pai


Neste dia, no ano de 1856, nascia em Freiberg, na Moravia (antigo Império Austríaco, actual República Checa), Sigmund Schlomo Freud. Sendo inequivocamente um dos mais importantes e controversos pensadores do século 20, Freud criou, não apenas um método, mas todo um inovador e aprofundado entendimento da complexidade do Homem, levando em conta os aspectos conscientes e inconscientes da sua vida mental. É justamente designado como "Pai" da Psicanálise, por "dar à luz" a teoria mais completa para a compreensão do funcionamento mental no Homo Sapiens Sapiens (o Homem que sabe que sabe). E que tanto sabe que usa (inconscientemente) as melhores manobras de ilusão na arte de se enganar a si mesmo.

Freud mostrou-nos, em parte, as "trevas" que carregamos dentro de nós mas ofereceu-nos igualmente o caminho que nos conduz à "luz". Hoje, a Psicanálise (e as suas “filhas”, as psicoterapias de inspiração psicanalítica) continua a ser uma viagem fabulosa que nos oferece o conhecimento, a verdade e a liberdade. Para os que têm coragem de dobrar o Cabo das Tormentas e enfrentar os seus Adamastores, grandes Glórias no Horizonte!

domingo, 4 de maio de 2014

Canção da Ausência



"Mother, you had me but I never had you, 
I wanted you but you didn't want me, 
So I got to tell you, g
oodbye, goodbye."

Ou como hoje li por aí: “o vazio absoluto, irremediável rasgão na alma, de não se ter no coração a ideia de Mãe”

Dia da Mãe




sexta-feira, 2 de maio de 2014

Inteligência Emocional


A inteligência é um conceito vasto, que tem sido tradicionalmente associado a uma medida, de seu nome, quociente de inteligência (Q.I.). Tornou-se moda medir e avaliar o quociente de inteligência como se isso fosse um indicador seguro das nossas competências e capacidades e de maior/menor sucesso pessoal e profissional. Contudo, face a alguns dados importantes, a era do Q.I. está a chegar ao fim. Aproximamo-nos gradualmente da ideia de que há uma forma de inteligência mais importante que todas as outras, a chamada “inteligência emocional”.
Esta constatação acerca da pertinência da inteligência emocional significa que nos interessa, em primeiro lugar, que as pessoas tenham a capacidade de dominar uma série de processos de ordem emocional para se desenvolverem adequadamente ao longo da vida. E assim, perante a necessidade de dar um nome ao processo do bom desenvolvimento psicológico, chamámos-lhe inteligência emocional. É um nome como outro qualquer (e a palavra “inteligência” continua a “vender” muito bem) mas o que interessa é que por inteligência emocional se entenda, acima de tudo, a capacidade de ter uma relação saudável com as nossas emoções e, consequentemente, com as emoções dos outros. Isto demonstra-se na relação comigo mesmo e com o mundo, e revela-se também na habilidade de comunicar, de expressar as minhas ideias e de receber adequadamente as ideias dos outros. Como não vivemos sozinhos, a capacidade de termos boas relações com os outros é fundamental, caso contrário, viveremos rodeados de problemas, obstáculos e conflitos.
Pela possibilidade de recorrermos a capacidades fundamentais como a consciência, reflexividade, autoconfiança, autonomia, entusiasmo, plasticidade e empatia (capacidade de me colocar no lugar do outro), tornamo-nos mais competentes em todas as áreas da nossa vida: pessoal, social, relacional e profissional. Sem elas, facilmente deprimimos, desmotivamos ou incompatibilizamo-nos, e aí, nem o Q.I. mais elevado do mundo nos trará felicidade/sucesso. Para triunfar, não basta competência técnica.

Infelizmente, o sistema escolar tradicional ainda não ensina nada sobre os afectos nem sobre ética relacional, permanecendo demasiado preso à noção de inteligência na sua perspectiva mais quantitativa. Contudo, as emoções treinam-se (ou desenvolvem-se), preferencialmente, no seio de um bom ambiente familiar (emocionalmente organizado e desenvolvido). Em acréscimo ou alternativa, podemos felizmente recorrer a uma psicoterapia, psicanálise e/ou a outras formas de reflexão, expressão e análise. Para nosso bem e para bem dos outros.