quarta-feira, 28 de março de 2012

Pedrinha (Do que mais se quer)

“And did you get what you wanted from this life, even so?
I did.
And what did you want?
To call myself beloved, to feel myself beloved on the Earth.”

Raymond Carver (Collected Poems)

domingo, 25 de março de 2012

Sabedoria Centenária



Meus amigos do "Pasquim", outro dia, me perguntaram: "Oscar, e a vida?" Eu disse: "A vida é mulher do lado e seja o que Deus quiser".

Oscar Niemeyer (104 anos)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia de Poesia


Sossega, coração!
Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa

Prisioneiros do Corpo


O conceito de motricidade diz respeito a um conjunto de mecanismos que nos permitem mover o corpo e os membros em relação aos objectos que nos rodeiam. É também o que permite manter uma postura, isto é, a atitude do corpo no espaço.

A motricidade é uma função absolutamente fundamental, sendo não só uma das mais claras evidências da vida, mas também a nossa principal forma de subsistência, devido à capacidade de interacção com o meio ambiente. É através do movimento dos corpos que podemos transformar pensamentos em acções e sonhos em realidade.

Existem três tipos de movimentos, os voluntários, os voluntários automáticos e os actos reflexos. Os movimentos voluntários são dependentes da vontade do organismo, implicam uma tomada de decisão. Os movimentos voluntários automáticos são de início e cessação voluntários mas o seu ritmo de base é automático como, por exemplo, no caso da locomoção e da escrita. Podemos decidir quando começar e parar de andar mas, enquanto andamos, o movimento é automático. Os movimentos reflexos têm um padrão rígido e automático, sendo também independentes da vontade, na medida em que o organismo não pode de modo algum decidir se o reflexo vai ou não acontecer.

Do mais simples ao mais complexo, dotam a espécie humana de capacidades invulgares e, quando “adoecem”, fazem-nos imensa falta. Estamos, lamentavelmente expostos, à possibilidade de sofrer lesões a nível motor (acidentes, AVC, doenças degenerativas) alterando e condicionando (consoante a gravidade das lesões) a nossa vida em vários aspectos: pessoais, relacionais, profissionais, familiares. Também o próprio processo de envelhecimento deteriora, em maior ou menor grau, as capacidades motoras do indivíduo. Perder capacidades ao nível motor implica muitas vezes a perda de competências, de autonomia, de auto-estima e de liberdade. Inevitavelmente, tudo isto implica grande sofrimento psicológico para o próprio, mas também para aqueles que se relacionam com ele.

Aliado às outras intervenções terapêuticas, o psicólogo assume aqui um papel extremamente importante, pois após a perda do controle dos movimentos, ficamos vulneráveis a crises de depressão e despersonalização. Estão presentes a nostalgia do passado, a tristeza do presente e o medo do futuro. O quotidiano muda, as expectativas mudam, os sonhos mudam (ou perde-se a capacidade de sonhar), e o psicólogo deve intervir tanto junto do próprio paciente como da família de modo a ajudar a minorar o sofrimento e o choque, bem como ajudar a perspectivar a situação e as mudanças que ela implica.

sábado, 17 de março de 2012

Experiências


"Ora e se eu agora me virar de cabeça para baixo o que é que acontece?
Olha que interessante, assim vejo as coisas de maneira diferente!
É muito curioso, este mundo…!"

Fazer, Burilar e Embalar

O amor não se diz; faz-se, burila-se e embala-se.
António Coimbra de Matos

quarta-feira, 14 de março de 2012

Pedrinha (Da Novidade, Diferença ou Mudança)


Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros. Viva outros romances. Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores. Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Mude. Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!

Edson Marques (E um pedido de desculpa por a autoria do poema ter sido atribuida a Clarice Lispector)

quinta-feira, 8 de março de 2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

Les couleurs du coeur

Estereótipos e Preconceitos


Os estereótipos são representações mentais de grupos sociais, ou seja, um estereótipo acontece quando atribuímos automaticamente certas características psicológicas gerais a grandes grupos humanos. Funcionam como uma espécie de correspondência imediata entre etiquetas psicológicas (ex: brancos, negros, homens, mulheres) e os indícios mais salientes dessas etiquetas.

Os estereótipos começaram por ser encarados como um escape para tendências agressivas ou como projecção das nossas fantasias indesejáveis nos outros, ou ainda como sintoma de certas personalidades ligadas ao racismo, ao autoritarismo ou à xenofobia. Depois, algo evoluiu na sua concepção. Desde então, Lippman é considerado o precursor da concepção contemporânea dos estereótipos e das suas funções psicossociais. Para ele, a origem dos estereótipos prende-se com a necessidade do ser humano em categorizar (e com uma tendência para a simplificação). Na prática, estas estruturas cognitivas não só categorizam, como influenciam o nosso processamento de informação, a percepção social e os comportamentos interpessoais (entre indivíduos) e intergrupais (entre grupos). São-nos transmitidos pelos agentes de socialização (pais, escola, comunicação social), o que explica o consenso relativamente a um dado estereótipo dentro de uma mesma sociedade.

Embora os estereótipos sejam naturais e instintivos, eles constituem os aspectos cognitivos que estão na base da atitude preconceituosa. O preconceito vai “mais além” que o estereótipo. Um preconceito refere-se fundamentalmente a um pré-juízo (ou pré-conceito) elaborado por nós antes de ser recolhida informação relevante, ou seja, é baseado em evidências inadequadas ou mesmo imaginárias. Ele surge quando os estereótipos se associam a um sentimento, positivo ou negativo, condicionando muitas vezes a atitude do sujeito e levando-o a adoptar uma posição a favor, ou contra, sem qualquer evidência factual. Assim, pode dizer-se que o preconceito acaba por tornar uma categorização natural do mundo físico num rótulo de significado afectivo desadequado, uma mera generalização.

Como disse Einstein, é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. Sabemos que, inevitavelmente, o Homem gosta de tentar simplificar o que é complexo. Aplicar “rótulos” é uma forma de o fazer. Felizmente, os estereótipos não são impermeáveis às mudanças sociais e, aos longos dos tempos, a alteração de alguns estereótipos (e o fim de alguma ignorância) tem acabado com certos preconceitos (em relação à diferença de sexos, de raças, entre outras questões). Einstein disse, com razão, que era difícil, mas não impossível…!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Águas de Março



Pedrinha (De Freud, o "abre-caminhos")

Permitindo-se levar a sério e compreender cada palavra, cada fantasia, cada mentira (verdade esquecida, para o poeta Mario Quintana), Freud estava dando um recado para o século: é necessário ouvir as crianças. Assim, abria um campo enorme que continua sendo aberto. Cem anos depois, começamos a ouvir melhor em algumas casas, escolas ou consultórios.
 
Celso Gutfreind in O Pequeno Hans discutido e sentido entre o passado e presente (Revista Brasileira de Psicanálise)