quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Princípio do Prazer vs. Princípio da Realidade



Existem pessoas que querem fazer apenas aquilo que lhes apetece, quando lhes apetece e como lhes apetece. Em senso comum, chamamos a isto ser egocêntrico, egoísta ou infantil. Outras pessoas há que são mais contidas e sabem que nem sempre podemos fazer aquilo que nos apetece como nos apetece e quando nos apetece, aceitando esta realidade com maior facilidade. Chamamos-lhe maturidade, responsabilidade ou racionalidade.
Em termos psicanalíticos, há dois conceitos interessantes introduzidos por Sigmund Freud há muitas décadas atrás: princípio do prazer e princípio da realidade. O princípio do prazer é então o desejo de obter uma gratificação imediata. Quando movido por este instinto, o sujeito age de forma a sentir prazer e evitar a dor, mostrando uma baixa tolerância à frustração. Opõe-se ao princípio da realidade, que representa a capacidade de adiamento de uma gratificação.
Ou seja, o que acontece é que quando queremos fazer algo que não é correcto ou oportuno fazer, temos duas alternativas: uma, passamos por cima do que for necessário para concretizar a nossa vontade, movidos pelo caprichoso princípio do prazer; duas, aguardamos por um melhor momento ou aceitamos a impossibilidade total de realizar tal desejo, compreendendo que a vida apresenta limitações e que nem tudo acontece como gostaríamos.
Nos primeiros tempos de vida, o ser humano é dominado pelo princípio do prazer. As crianças querem ver os seus desejos realizados imediatamente e a capacidade de adiar a satisfação de um desejo ou necessidade e de suportar a dor e a ansiedade vai sendo construída ao longo do tempo. Depois, o desenvolvimento desta capacidade torna-se em grande parte uma responsabilidade dos educadores, que desde cedo vão mostrando aos seus filhos o que pode e não pode acontecer, o que é e não é possível, apresentando-lhes as primeiras frustrações da vida e ensinando-lhes quotidianamente com naturalidade que nem sempre as coisas acontecem quando e como queremos. Começa a desenvolver-se o princípio da realidade. Num indivíduo adulto bem estruturado, este é o princípio dominante.
No entanto, nem sempre tal acontece. Por vezes, há uma falha no equilíbrio entre os dois princípios e o princípio do prazer sobrepõe-se, tornando o sujeito omnipotente, caprichoso e desajustado socialmente, pois ao procurar sistematicamente satisfazer o seu desejo acaba por entrar em conflito com o desejo do outro, tantas vezes diferente do seu. Note-se que, embora o princípio da realidade seja mais favorável ao bom desenvolvimento, também pode acontecer o inverso, quando uma exclusividade do princípio da realidade torna o indivíduo exageradamente contido, incapaz de se permitir a saborear. Tão contido que também dificilmente viverá com plenitude. Como sempre, no meio encontramos a virtude.

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